2007/01/15

O doceiro (parte 3)

Cassiano, nosso neoliberal e pré-emo de plantão, mudar-se-ia com a família para a distânte e colonial cidade de Curitiba. Uma vez lá, cursaria Relações Internacionais na Universidade Tuiuti. Poucos dias antes da nossa viagem, o sobrinho do Bin Laden nos encontrou em Passo Fundo com a notícia de que fora aprovado no vestibular. Terror.

Viu seus amigos com os cabelos raspados e se assustou. Ainda mais quando João Werner se aproximou dele com a máquinha de tosar ovelhas, digo, cabelos. Quase chorou ao nos implorar que deixassemos suas madeixas lavadas a base de gel em paz. O motivo que nos apresentou foi simples: encontraria Emanuelle, a mulher mais feia do mundo, em Capão. A desculpa não convenceu a Paula, que entrou no carro do Norton, catou uma tesourinha de criança, dessas que nem papel corta, e pôs-se a correr atrás do Cassiano, que fugiu em direção à saída da cidade. O local era o Ipiranga que, devido à nossa influência (modéstia a parte), viria a ser chamado Piscinão de Ramos um dia.

Como não voltava mais, Norton achou certo encontrá-lo e saiu de carro atrás do amigo. Por precaução, levou a Paula junto – com a tesoura. Cassiano voltou pouco tempo depois, dizendo que apenas dera a volta na quadra. Mas a hipótese mais aceita é que teve seu bombom violado naquele curto espaço de tempo.

Outro que não teve o cabelo cortado foi o próprio Norton, mas não por causa de frescura, e sim pelo reconhecimento pelos anos que ele passou cuidando da juba. Pesava na balança o fato dele ter passado para Música. E não-cabeludos na FAC tendem a ser discriminados. O espectro da discriminação viria até ele na praia mesmo, na forma de Bob Marley, o negão, mas essa é uma outra história. Como condição para ter seu cabelo deixado em paz, Norton concordou em ter suas pernas depiladas.

Destarte, a cena era a seguinte: na frente da casa, Norton estava com a perna direita em cima de um banco. A sua frente, João Werner, com a máquina digna do exército, raspava lenta e (por que não?) sadicamente seus pelos. Para aguentar a dor (psicológica, claro), só os copos de caipira que o cercavam. Então Norton olhou para o lado, procurando uma visão menos assustadora. Seu olhar vagou pela rua, fixando-se no portão da casa, onde se encontrava ninguém mais, ninguém menos que o Doceiro.

A recepção ao cordial vendedor de doces foi um pouco diferente desta vez. Tratamos ele com cortesia, claro, só que não compramos doce algum. Insatisfeito, o Doceiro ainda tentou nos convencer, mas foi vencido por um argumento visual mais forte: as pernas depiladas do nosso amigo cabeludo, cercada por copos e copos de Garoa. O que antes deveria ser uma hipótese remota agora já deveria ser um pouco mais certo no imaginário do Doceiro: na melhor das hipóteses, ele estava na presença de uma casa bêbada (e isso em uma época remota onde não existiam nem andains nem a Casa). Na pior, era apenas um reduto de homossexuais. Para piorar a nossa situação perante o honesto (porém assustado) homem, Norton comentou, ao perceber aquele olhar incrédulo mirando suas pernas nuas:

- É a última moda depilar uma perna, quer que façamos na tua?

E o Doceiro, certo da homossexualidade do menino a sua frente, respondeu um "não, obrigado" seco e se mandou, apenas para aparecer meia hora mais tarde, nos dando lição de moral.

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Um comentário:

Anônimo disse...

huahsuahsuhau

eu kria ver a cara do doceiro
hauhsuahsuhauh

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