2007/02/02

Assassinato na rua dos pirulitos

Morava em Caxias do Sul. Quando era pequena, tinha três amigas que eram também irmãs e suas vizinhas. Os nomes não interessam. Brincavam quase todos os dias juntas. Quase todos porque a mãe das meninas não deixava elas saírem no domingo. Segundo a religião deles, esse era um dia sagrado para servir ao homem da família, ou algo assim. Ninguém mais na cidade praticava a mesma religião, o que era, acima de tudo, suspeito. Essa história não tem nada a ver com isso.

O fato é que as duas casas possuíam dois andares e o quarto dela ficava de frente ao da outra menina. No caso, a irmã do meio, que tinha a idade dela. Quando elas eram pequenas, passavam os dias de domingo inteiros na janela conversando ou fazendo gestos. Isso até mais ou menos os dez anos, quando as irmãs da vizinha deixaram de frequentar o quarto da irmã. Sozinhas no seu mundo particular, as meninas desenvolveram uma relação assim, digamos, íntima. Uma foi o primeiro amor da outra. Nesse ponto, seria sensato dizer o nome da tal vizinha. O que não será feito porque a coitada morre nos próximos parágrafos.

Era véspera de natal e a família da menina a obrigava a dormir cedo porque Papai Noel ia chegar, distribuir presentes e coisas assim. No fundo é aquela velha lorota clássica que os pais contam para não serem surpreendidos semi nus espalhando caixas pela casa. Existem países onde essa prática é, no mínimo, obscena. A menina por sua vez não conseguiu pegar no sono quando ouviu um barulho vindo da sala. Era um grito parecido com um "aaaah!", mas como ela tinha 50% de surdez no ouvido direito pensou que fosse o elefante que ela pediu para os pais de presente. Animada, desceu as escadas correndo e só não tropicou e rolou degrais abaixo porque isso colocaria um final prematuro na história. Por sorte, os pais já tinham colocado os presentes na árvore e estavam nesse momento no próprio quarto fazendo coisinhas.

Ela, guiada por um instante único de brilhantismo, abriu a porta a tempo de ver Papai Noel saindo da casa das amigas. Trazia nas costas o famoso saco cheio de presentes e caminhava em direção à rua. Ela ficou feliz e chamou pelo bom velhinho pelo nome de batismo (dela, não dele). O bom senhor se virou, olhou para ela e deu pernas-pra-que-te-quero, entrando numa camionete vermelha que estava estacionada na esquina. Ela, sme entender nada, voltou para o quarto, chorou um pouco e depois dormiu. Então acordou, foi no banheiro mijar e dormiu de novo (no banheiro).

A primeira coisa que fez de manhã foi visitar as amigas e contar que viu o Papai Noel na casa delas. Chegando lá teve um susto: a casa estava cercada de gente que ela não conhecia, todos vestindo uniforme. Para pular toda a parte chata do que ela fez e não fez, sentiu e não sentiu, vamos direto aos fatos: o Papai Noel era na verdade um ladrão que entrou na casa na hora errada, foi surpreendido pelo pai da família e foi obrigado a matá-lo. Como a merda já estava feita, acabou matando o resto também. As três meninas foram mortas com uma facada só – para as três (o que mostra a incrível habilidade que o bom velhinho tinha com facas).

O culpado nunca foi encontrado, até porque a testemunha-chave, nossa protagonista anônima, resolveu não revelar para ninguém que Papai Noel era um assassino. Ainda mais depois de ver a atuação dele no primeiro episódio de Robot Chicken. Se ele conseguia matar três meninas que estavam em quartos diferentes com apenas uma facada, imagina com aquelas katanas. Ainda bem que o bom senhor Jesus estava por perto (e ela nunca teve tanta fé na religião quanto naquele momento). O certo é que o choque não só lhe deu uma eterna fobia de Papai Noel (e, por abrangência, do Internacional), como também reprimiu violentamente seus impulsos lésbicos.

Acontece que ela escondeu isso de todo mundo por mais de dez anos até que, quando fez 25, fodeu sem camisinha, engravidou de gêmeos e foi obrigada a casar. Foi demais pra ela. O dialogo foi mais ou menos assim:

- Amor, – disse o noivo – essas pequenas sementes são a prova do nosso laço eterno. E quero fortalescer esse laço nesse momento. Casa comigo?

- Não! – respondeu assustada.

- Mas por que?

- Não devo me casar porque tenho medo de Papai Noel!

Ele não sabia o que fazer enquanto cinco tipos de riso diferente passavam pela sua cabeça ("ha", "he", "hi", "ho" e "hu"), mas conseguiu contornar a situação e convenceu ela de que podia fazer terapia e acabaram casando mesmo assim.

Com o atendimento médico profissional relevante, ela se tornou uma pessoa melhor, que além de tudo tinha pé. Sua vida tinha mais cor, seus dias tinham mais sol e coisas fofinhas assim. Os filhos nasceram saudáveis e cresceram felizes, tendo uma vida comum. Mas o medo dela não foi superado tão fácil assim. Tanto que o natal da familia geralmente era comemorado sem a presença de parentes, árvores e coisas assim. Os presentes se limitavam a um aumento na mesada para que cada um comprasse a merda que quisesse.

Por conseqüência, as dúvidas eram inevitáveis: "mãe, quem é esse velho barbudo de vermelho?", "mãe, porque as pessoas enfeitam árvores?" e "Wenn ist das Nunstuck git und Slotermeyer?" eram as perguntas que mais se ouvia naquela casa. Como ela só sabia a resposta para a última ("Ja! Beiherhund das Oder die Flipperwaldt gersput!"), acabava tendo de usar evasivas.

Por coincidência, foi no natal do ano em que as crianças tinham dez anos que ela finalmente superou a fobia. Já podia ver fotos de papais noel pelados na internet sem desmaiar e, segundo o terapeuta, com mais duas semanas de tratamento, poderia até interagir com eles. Aquele natal seria comemorado de forma diferente pela família, que pela primeira vez ia ter árvores enfeitadas, peru com fios de ovos e todas aquelas frescuras. Então o pai meteu todo mundo no carro e foram para o centro fazer compras.

Passaram no supermercado, na farmácia, na loja de roupas femininas, no boliche, por tudo. Quando estavam voltando, viram na esquina um senhor vestido de Papai Noel distribuindo balas e pirulitos. As crianças ficaram eufóricas e pediram para os pais se podiam ganhar doces. O pai olhou para a esposa que hesitou, hesitou mas, enfim, consentiu. As crianças acenaram para o Noel. Mas como ele estava longe e o carro corria em uma velocidade alta, não teve dúvidas: enfiou a mão no saco, encheu-a de pirulitos e os jogou em direção ao carro.

Os doces entraram pelos vidros abertos, acertando as crianças com bastante força. Um deles atingiu a nuca da mãe, que por um acaso do destino (será?) estava sem cinto de segurança e voou com o impacto para o colo do marido. Ele perdeu o controle e tentou freiar, mas o pirulito caiu exatamente embaixo do freio, e de pé, ainda por cima. O carro foi parar na outra pista, justamente na hora em que passava um caminhão antigo do Sílvio Santos, com anúncios da Porta da Esperança. Todo mundo morreu, menos o motorista do caminhão, que era concursado e ia dar um prejuízo tremendo. O Papai Noel saiu correndo para dentro de um beco próximo e nunca mais foi visto. Testemunhas juram ter ouvido sons de renas e visto um trenó voando em alta velocidade, mas isso nunca foi provado.

2 comentários:

Anônimo disse...

ASHUSHuhauHAUh

nd a declarar
HASUHUSHUAHSUHAUSHUAHSUH

MAs q eu acho q foi o pirulito do chaves eu ainda acho:P

=P

Anônimo disse...

Tu foi o escolhido para fazer as traduções...
Aguardem o próximo capítulo... "A vingança da ervilhas"

e os pirulitos serão verdes!

=)

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