2006/12/24

O bicicleteiro

Tinha hábitos estranhos. Um dia, comprou uma bicicleta e não a largava. Ia com ela para todos os lugares, fizesse chuva ou sol, até para a escola, que ficava do outro lado da cidade. Atrasava-se sempre, sem se importar. Perguntavam-no sobre seu veículo, e sempre respondia: "É que eu sou bicicleteiro!".

Ninguém o entendia. Dizia que encontrou o termo em um dicionário hispogermânico e resolvera adotá-lo. Seus pais, preocupados, o internaram em um hospital mental, de onde saiu duas semanas depois, aparentemente curado. Passados alguns dias, vendeu sua bicicleta por um preço razoavelmente superior ao qual havia comprado.

Dois meses se passaram e não mais falava da bicicleta. Felizes, os pais chamaram seus amigos e lhe deram uma festa surpresa.Quando ele chegou em casa, inverteu a situação mesmo sem saber de nada, e foi ele que surpreendeu a todos com uma gaitinha, dessas de criança, que se pode comprar em qualquer loja de um e noventa e nove, que trazia embaixo do braço. "É que eu sou picolezeiro!", disse ao perceber o espanto de todos.

Durante três semanas seguidas tocou sua gaitinha. Tocava no ônibus da escola, no meio das aulas e também na hora do almoço. Os colegas, novamente preocupados, procuraram satisfações, mas ele sempre respondia irritado: "Deixem-me picolezear em paz!".

Um dia, os colegas não agüentaram e quebraram sua gaitinha. A diretora, que estava presente, aplaudiu a cena. Ele nunca mais foi o mesmo. O tempo passou e sempre estava abatido. Não fez mais a barba e nem tomava banho, tampouco passava desodorante. Tornou-se insuportável e perdeu todos os amigos. Até seus pais tinham vergonha dele.

Enfim completou dezoito anos. Seus pais o presentearam com um pouco de dinheiro e, aliviados, o expulsaram de casa. Uma manhã, não apareceu na parada. O ônibus estava quieto, todos estavam preocupados com ele; na aula, todos comentaram. No recreio, ouviram um som familiar e correram para a janela. E lá estava ele, alegremente tocando uma gaitinha, montado em uma bicicleta, vendendo picolé.

Meta: Essa é uma história antiga que eu achei nos backups, dei uma arrumada e postei de novo. É a terceira versão de um conto clássico.

Um comentário:

Anônimo disse...

M.E.D.O.

O.o




eu LEMBRO disso!!!!!!!!!

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