2009/01/31

Grandes aventuras de jvk no Alasca: a história do Velho Pedófilo

Essa é uma historinha antiga. Um dos poucos quartos cujo número eu sempre lembro é o 405. Isso porque, nos meus primeiros dias de trabalho, esse quarto era habitado por um personagem que eu apelidei, carinhosamente (jura!), de o Velho Pedófilo. O Velho Pedófilo habitava, sozinho, um dos quartos de duas camas.

Eu suspeitei de suas preferências porque, na primeira vez que entrei no quarto, havia sangue nos lençóis e um urso de pelúcia na cama. Só vim a descobrir que era um velho no outro dia, quando estávamos limpando o mesmo quarto e ele apareceu. O Velho Pedófilo ficou assustado, como se estivesse guardando um segredo obscuro, mas se recuperou logo e nos ajudou a arrumar o próprio quarto mais rápido que qualquer outro camareiro que eu encontrei por aqui.

Mas, apesar do medo do Velho Pedófilo, ele me ajudou – sem saber – em um fatality. Acontece que a subchefe é uma senhora de tenra idade (mas, assim como a Ale, também já é avó) que, cá entre nós, não vai muito com a minha cara. E um dos quartos para o qual eu fui designado, em uma fria manhã de sábado, era o 405, no dia em que deixaria o hotel o Velho Pedófilo.

O quarto, que deveria estar vazio, ostentava aquela velha placa de "não perturbe" que todo mundo conhece. Dividido entre o dever de limpar um quarto (supostamente) vazio e a placa, cedi ao medo da sub-chefe e bati na porta, apenas para levar um sonoro "não, obrigado" (que não foi na cara porque a porta estava fechada). Voltei ao escritório e contei o que havia ocorrido. A subchefe, sabe-se-lá-porque, duvidou da minha história e telefonou para a recepção, que informou que o quarto estava vazio. Eu insisti que não; ela, evidentemente puta da cara, ligou para o quarto, onde ninguém atendeu. Gelei: haveria o Velho Pedófilo deixado seu quarto nesse meio tempo?

A subchefe então levantou-se, pegou uma chave e vestiu seu casaco. Em seguida, dirigiu-se até o quarto do Velho Pedófilo, me ordenando que a seguisse. Ela bateu na porta e ninguém respondeu. Senti três tipos diferentes de frio na espinha (o que sobe, o que desce e o que faz zigue-zague). Ela abriu a porta, enfurecida, e em seguida só ouvi um som:

- Chuá!

O som continuou, ininterrupto, direto do banheiro. Era o som do chuveiro ligado. Para nossa sorte, a porta do banheiro estava fechada, confinando o Velho Pedófilo (e seus supostos jogos sexuais obscuros). A subchefe ficou vermelha de vergonha, de um jeito que eu nunca mais a veria, me mandou voltar para o outro prédio e fechou a porta.

Eu, obviamente, nunca mais veria o Velho Pedófilo. Nem ele saberia que me ajudou em um golpe mortal que, suponho, me arranjou uma inimizade pelo resto dos meus meses de true inverno. Depois que ele se foi, eu comecei a assistir (com certa freqüência) Family Guy, que também tem um velho pedófilo (que não lembra em nada o que eu conheci). E hoje, enquanto escrevo esse texto, um time de hockey infantil habita o quarto andar, com crianças no quarto 405. Soubesse disso, voltaria para cá o Velho Pedófilo?

Nenhum comentário:

Twitter

    follow me on Twitter
    Este blog aprecia opiniões diversas e propostas de debate. Não se acanhe e deixe um comentário!