A história por trás dessa matéria é mais simples do que pode aparentar. Começou com uma ligação a um dos meus mentores intelectuais: a Tia Ingrid. A idéia da pauta, antes que alguém pergunte, é 100% dela e surgiu da própria discussão dos alunos do Fagundes sobre quem era aquele tio. Por um acaso do destino (leia-se descuido), o senhor Fagundão não foi citado na matéria.
A apresentação desta ao editor Daniel Bittencourt no dia seguinte foi também acaso do destino. Pra quem não sabe, terça-feira é uma das minhas poucas manhãs livres e eu uso ela pra dormir. Sempre. Nas terças e nas quartas, a pessoa responsável por me trazer os jornais é minha mãe. Esse dia ela se esqueceu e eu cheguei na reunião de pauta totalmente sem idéias. Não é que essa pauta estivesse fora dos meus planos, apenas queria deixar ela para quinta-feira, já que me dava mais tempos de pesquisar e fazer a matéria. Ao apresentar as idéias e ver a cara séria do editor, acabei dando a idéia, que ele adorou.
Como a outra pauta que eu tinha também envolvia escolas públicas, apanhei logo a agenda e comecei a ligar para as escolas públicas que eu já tinha anotado o número por causa de outra pauta. A Arno Otto Kiehl era a primeira da lista. A Deonise Gomes, que é a diretora de lá, conversou comigo sobre a primeira pauta, que não resultou em muita coisa. Só por descargo de consciência mesmo que eu entrei no assunto de quem era o tio Otto Kiehl. Confesso que na hora eu não tinha a mínima idéia de como diabos ia fazer o texto. Quando desliguei o telefone, fui correndo conversar com o Daniel: "a Arno Otto Kiehl tá fazendo uma gincana e pesquisando quem era o cara". Ele só olhou pra mim, me alcançou as chaves do carro dele e disse, em bom português:
- 行け、行け、行け!!!
Eu fui.
Otto quem?
O desafio então se tornou chegar na escola. Tudo o que eu sabia é que ela ficava em algum lugar depois dos trilhos. De posse do carro do Daniel, rumei para o lugar onde eu chutei que estaria a escola: perto da AABB. Foram precisos três tentativas para achar o caminho. Na primeira eu me perdi em algum lugar no caminho para a Hípica, na segunda perto do Valinhos e na terceira eu finalmente cheguei. Eram mais ou menos 15:10 e eu tinha que voltar ao jornal antes das 16 horas.
O pessoal da escola me encaminhou até a diretora e, conforme a conversa se desenvolvia, eu já preparava material para fazer a matéria da gincana caso a pauta caísse. E ela realmente ameaçou cair quando fiquei sabendo que os alunos responsáveis pela pesquisa eram do turno da manhã. Quando três estudantes passaram pelo corredor e a diretora os chamou, a pauta estava salva.
Que fique bem claro: a pessoa para quem o retrato de Arno Otto Kiehl (que não é nenhum Dorian Gray) olhava incessantemente era eu. Talvez ele soubesse de antemão o que eu estava fazendo e queria fazer pressão para ser a foto dele a aparecer na matéria. Talvez se o retrato não fosse tão pequeno e eu tivesse a certeza que a pauta não ia cair, até fosse. Tio Kiehl que me perdoe.
Essa aí também é a origem do primeiro parágrafo da matéria. Findada a entrevista com os alunos, percorri com a diretora pela escola e entrevistei a professora Marisa Schleder. Fiz algumas fotos e voltei correndo pro jornal.
"Por que eu?", pensou Nicolau de Araújo Vergueiro
Quando voltei ao jornal ainda não eram 16 horas. Só que o compromisso que eu tinha acabou subitamente desmarcado, me dando tempo de sobra pra fechar as matérias. Nessa hora eu ainda tinha dúvidas sobre como tratar a pauta. O texto sobre a gincana da Otto Kiehl estava até pronto quando resolvi mandar tudo a merda e voltar ao plano original. Escrevi todo o texto e ainda apurei dados para outra matéria antes das 18. Nesse ponto me disseram que a matéria seria a capa. O Daniel só me cobrou uma foto. Até disse que fazia a foto sem problemas, só não ia ter tempo de fechar a segunda pauta. Como não era uma matéria factual, não teve problema.
Com a câmera na mão e a chave do carro na outra, só precisava ter alguma idéia interessante, fotografar, voltar ao jornal, descarregar, analisar e criar uma legenda. Para ficar pronto, só faltava isso, um título e a linha de apoio. Isso tudo em menos de 50 minutos. Não sei porque, mas o primeiro colégio que me veio à cabeça foi o EENAV. Cheguei lá correndo e subi até a secretaria. A pressa era tanto que na hora de explicar para a secretária o que eu queria demorou um bom bocado. Já com a autorização, só faltava uma boa idéia. "Faça algo diferente do esquema de fotografar a fachada da escola" era a ordem do editor. Por via das dúvidas, fotografei a fachada mesmo assim.
Quando eu descia a escada, em busca de uma idéia, o retrato do Nicolau chamou minha atenção. A pauta focava os ilustres desconhecidos da cidade e um deles estava lá na minha frente num retrato bem grande. Colocar um aluno olhando pra ele e fotografar era a coisa mais óbvia a fazer. O título "Quem é esse cara?" surgiu daí.
Confesso que as fotos ficaram horríveis. Não deu pra fazer muita coisa porque as pilhas acabaram e eu voltei correndo pro jornal com o material. Pode parecer que voltei de mãos vazias, só que eu tinha uma boa idéia que compensou. O pessoal do jornal gostou da idéia e o editor pegou a câmera e fez uma foto melhor.
No outro dia, no estado de São Paulo...
A matéria saiu e foi capa do jornal. Passei o dia em função da ACISA e nem pensei em mais nada. No final do dia que me disseram que a Tânia Rösing gostou da história e tinha elogiado. Em menos de uma semana, ela se rendeu aos meus poderes duas vezes.
Te cuida Paulo Becker.
2007/04/18
A capa do mundo é nossa!
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