2006/08/08

Porque nem todas as coisas na vida são kk

(o título é uma referência à Osni, já o texto contém tendências freudianas)

Alguns sábados atrás, nem lembro direito qual, fui visitar minha vó e acabei ficando pra janta. Nem sábado era, alias. Era domingo (isso eu lembro porque tinha Simpsons). A vó, com toda a sua delicadeza e fodalidade de vó (minhas duas avós foram condecoradas com o título de livre docência em vó, pra quem não sabe), me sentou no sofá só com o poder da mente e foi para o quarto pegar o telefone e encomendar comida (nem sempre as vós cozinham, mas quando a vó é foda o suficiente, ela ganha o poder de fazer qualquer comida ter gosto de vó, mesmo que não seja feita por ela).

Enquanto a vó falava com o Alemão por telefone (acho) e pedia uma quantidade incrível de comida do Boka, eu peguei o controle remoto e comecei a zapear canais. A televisão da vó é uma antiga da Philips na qual se pode nomear os canais. Um deles - depois de tanto tempo nem lembro mais qual - estava com o nome errado e eu tratei de acessar o menu de instalação e arrumar. Aí depois comecei a zapeação de novo.

A última vez que eu lembrava de ter zapeado os canais da tv da vó foi antes dela se mudar para o edifício, na época que ela ainda morava no último andar do prédio da esquina do Esso Morom e ela e o vô eram obrigados a subir mais ou menos setenta degraus para chegar em casa. Era uma terça-feira, estava quase anoitecendo e eu não lembro que diabos eu fazia lá. Nem o ano eu sei qual era, 2001, 2002, acho. O que eu lembro é que eu estava deitado no sofá, zapeando. Aí o vô chegou em casa depois de uma daquelas caminhadas diárias que ele fazia, na qual ele cumprimentava mais pessoas que o Tex e o Portela juntos em um dia movimentado. Ele entrou em casa, me comprimentou do jeito de sempre ("tudo bem, coração?") e passou o resto do tempo resmungando que a tv ia estragar se eu continuasse a trocar de canais. Mais tarde, ou meu pai passou por lá e me levou embora ou eu larguei pra casa pra fazer outra coisa. No dia seguinte, o vô faleceu.

Eu não consegui ir ao velório. No fundo, eu sentia culpa por ter discordado dele e por não ter me despedido direito. E também não queria ver aquele homem forte e de coração gentil deitado inerte. Meus pais não entenderam o que eu sentia e pensaram que era só birra de adolescente que acha que tem coisas melhores pra fazer.

Um comentário:

seguidorlovecraft disse...

"Eu não consegui ir ao velório. No fundo, eu sentia culpa por ter discordado dele e por não ter me despedido direito. E também não queria ver aquele homem forte e de coração gentil deitado inerte. Meus pais não entenderam o que eu sentia e pensaram que era só birra de adolescente que acha que tem coisas melhores pra fazer."

Pomba meu, muitas vezes não sabemos como proceder em certas situações, e, quando tomamos a decisão mais certa, algumas pessoas pensam que estamos fazendo caso daquilo. Reprovadas elas estão por tal atitude.
LNN

Twitter

    follow me on Twitter
    Este blog aprecia opiniões diversas e propostas de debate. Não se acanhe e deixe um comentário!