2006/05/16

Felipe Portela, professor e jornalista de Erechim, tem como hábito a leitura de um jornal que não é natural de sua cidade. Toda manhã, ele abre a porta de sua casa (ou apartamento, tanto faz) e pega no chão um exemplar do Jornal do Comércio. Ele lê tal jornal por ser um dos poucos especializados do estado, ter uma qualidade aceitável e - claro - para poder dizer para os colegas da universidade que entende de economia.

Um dia, inspirado pelos Deuses do Jornalismo, o senhor Portela liga seu computador, abre o word e redige uma carta ao seu amado jornal. O assunto da carta, escolhido a dedo pelo professor Portela, não poderia ser um que não se adequasse aos seus conhecimentos. Após muito pensar, Felipe Portela escreve um texto sobre o lançamento do momento: o filme do Código Da Vinci.

O objetivo do jornalista, com tal texto, é provar sua eloqüência e suas habilidades em juntar fatos aparentemente distintos em um único texto. Felipe Portela não possui os conhecimentos e a genialidade para juntar Star Trek, Indústria Cultural e Tangos e Tragédias no mesmo parágrafo, mas mesmo assim terá o orgulho de, no dia seguinte, ser o homem que adicionou o Papai Noel ao duelo entre a liberdade de expressão e o deputado federal Salvador Zimbaldi (PSB-SP).

O senhor Portela, com o jornal na mão, correrá pelo hall da faculdade mostrando seu feito aos colegas, aos alunos, aos empregados. Até o cachorro do filho do segundo casamento da ex-mulher do zelador vai saber. Felipe Portela só não contará à sua própria esposa porque, graças a idéias brilhantes como relacionar Papai Noel com o Antigo Testamento, ela o abandonou. Porém, apesar dos esforços do professor universitário, ninguém dará a mínima.

Felipe Portela entrará em depressão. Nos próximos dois meses ficará em casa, andando do quarto até a cozinha, da cozinha até o quarto. Eventualmente irá ao banheiro. Ele nunca saberá que sua carta, que blasfemava contra a heresia do Código Da Vinci, foi lida por um ocasional João Vicente Kurtz antes de ser publicada. Esta pessoa, responsável por passar o conteúdo do jornal para o site, foi possivelmente aquela que mais atenção deu à carta do senhor Felipe Portela. Ela só dizia merda.

P.S. Os nomes foram alterados para preservar a identidade do autor. O que não aconteceu.

Um comentário:

Robson Rotten disse...

QUERO UMA CÓPIA.

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