Bebidas, luzes, música eletrônica. Pessoas entorpecidas dançando freneticamente pela noite. O mundo girando, girando. Casais recém formados se beijam pelos cantos, nas mesas, na pista. O tempo passando, passando. Os garçons acompanhando o ritmo da boate, servindo, ganhando. Incitando. No canto, um bêbado solitário. Décima cerveja, bebendo, bebendo. No outro canto da cidade, pessoas dormem, ou não. Se preparam para o dia seguinte. O tempo passa, a festa acaba. As pessoas se vão. O bêbado permanece.
- Ei - diz o garçom - tudo bem?
As luzes acesas, a casa vazia. Vinte cervejas na mesa, o bêbado caído no chão. Não responde.
- Acho que dormiu, diz o garçom ao colega.
Se aproxima do homem caído, olha e vê que ele está dormindo. Se vira para o colega, vai pedir ajuda. Então percebe:
- Escuta, nunca te vi antes, tu é novo aqui?
A resposta é um tiro. Saiu da arma que o outro garçom carregava, guardada no bolso. Acertou o ombro do outro garçom, que caiu no chão sofrendo dores intensas. Quase perde os sentidos, mas se segura com todas as forças.
- Me diz, seu bosta! Onde tá o dinheiro?
- Hã?
- O dinheiro, porra! Cadê a grana? Diz ou te finco um tiro no bucho!
- Eu não sei cara, eu não sei!
- Não te faz, otário! - E atirou para cima. - Cadê a bosta da grana? E não adianta chamar ajuda que eu já apaguei todos os teus amiguinhos lá na frente!
O garçom, assustado, não conseguiu manter o controle. Guiado pelos seus instintos, se levantou e bruscamente começou a correr. O outro, armado, perseguiu-o. Avançou alguns passos em alta velocidade mas, quando passou perto de onde o bêbado estava, foi atacado por uma pancada na cabeça.
Tal pancada foi seguida pelo som de vidro se quebrando. Era o bêbado quebrando uma das garrafas na cabeça do assaltante. Na outra mão segurava mais duas, se preparando para atacar de novo caso fosse necessário.
- Bosta cara, bosta! - disse o ladrão ao sentir o sangue na sua cabeça. Tentou apontar a arma para o bêbado, mas sua mão já cambaleava. Foi inútil, mesmo assim, porque o bêbado movimentou a mão que segurava as garrafas, acertando em cheio a arma, que voou longe. Um soco seguiu, e o assaltante caiu no chão, sem sentidos.
- Valeu cara... - disse o garçom, tímido - não sei o que posso fazer pra agradecer...
- Eu já tava entediado pensando que não ia acontecer nada e que tinha perdido tempo vindo aqui. E se tu quiser ajudar mesmo, não me cobra a bebida.
O garçom olhou ao redor, contou as 20 garrafas e respondeu:
- Claro!
O bêbado, que não tinha mais nem voz nem aspecto de bêbado, se levantou e se dirigiu para a saída. Antes de sumir no fim da noite, ergueu a mão em posição de aceno e, sem se virar, despediu-se:
- Andain, irmão... andain!
2006/05/30
Andain: Night hunters (teaser)
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